Dicas de Saúde 19 de Fevereiro de 2019

Estresse favorece desencadeamento de doenças de pele

Nas pessoas com predisposição genética, o estresse pode atuar como um gatilho para o surgimento de problemas

Saulo Ohara

A professora Elisamar Mendes Granado Chacon teve diagnóstico de psoríase há dez anos: "Nunca imaginei que causasse tantos transtornos"

Lesões avermelhadas, manchas, descamação, coceira e muitas espinhas. Os problemas são diferentes, porém a causa pode estar relacionada a um mesmo fator desencadeador: o estresse. A falta de bem-estar psicológico pode favorecer o surgimento de doenças na pele. Isto ocorre porque alterações hormonais acabam liberando algumas substâncias na corrente sanguínea. A imunidade diminui e o corpo passa a ficar mais vulnerável a infecções. A pele também está entre os órgãos mais importantes no fornecimento de informações ao sistema nervoso central.

O dermatologista José Jabur da Cunha, chefe do setor de dermatologia da Santa Casa de São Paulo, pondera que o estresse não é o único causador de doenças de pele, pois o processo tem mais de uma razão, ou seja, é multifatorial. "Mas realmente existem pessoas que têm uma condição genética favorável ao desenvolvimento de algumas doenças de pele. Nas pessoas que têm esta predisposição genética, o fator estresse pode atuar como um gatilho para o surgimento da doença. Estresse e pele estão muito conectados", explica. "Se trata de vias bidirecionais entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico", acrescenta.

PSORÍASE

Entre as doenças que o estresse pode levar a manifestar está a psoríase, que é autoimune e forma placas avermelhadas na pele, podendo atingir as articulações. "A psoríase acomete, principalmente, regiões de dobra, como joelhos e cotovelos, além do couro cabeludo. Porém, pode aparecer no corpo todo, inclusive nas unhas", destaca a reumatologista de Londrina Mayara Silveira. "Quando é artrite psoriásica a pessoa tem bastante dor articular e inchaço de alguns articulações", aponta. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que a psoríase atinge 1,3% da população brasileira.

O tratamento é feito à base de cremes, pomadas e shampoo especial. Se está em estágio muito avançado pode ser aplicada terapia imunossupressora com o objetivo de "frear" a doença. "Quando chega às articulações prejudica em todos os sentidos, porque deforma. Quando aparecem os sintomas é necessário procurar especialista, pois quanto antes diagnosticar melhor será a resposta no tratamento", alerta Silveira. Se não tratada ela pode fazer com que o paciente desenvolva obesidade, diabetes, pressão e colesterol altos.

A psoríase, que não é contagiosa, apresenta coceira, descamação e ardência, deixando a pele ressecada. "Mesmo que sua causa, normalmente, é genética associada a fatores psicológicos, a ingestão de álcool e o tabagismo se tornam agravantes. O cigarro, por exemplo, corta o efeito da medicação", cita a reumatologista.

VITILIGO

Coordenadora do Colegiado de Medicina do Centro de Ciências da Saúde da UEL (Universidade Estadual de Londrina), a dermatologista Ligia Martin destaca que é preciso diferenciar as doenças em que o distúrbio psicológico é primário e a dermatose secundária, das doenças em que existem alterações emocionais em grau variável. "As variáveis ponderáreis são a idade, natureza, localização da doença e aspectos antiestéticos, entre outras, como o exemplo da psoríase. Existem as doenças em que as causas são orgânicas e perturbações emocionais colaboram em diferentes graus de produção da dermatose, como a alopecia areata (doença inflamatória que provoca queda de cabelo)."

Outras doenças de pele muito relacionadas ao estresse são o vitiligo, dermatite atópica e acne, entre outras. Todas estas doenças podem manifestar-se de forma leve, mas também de maneira bastante intensa. No caso o vitiligo, que acomete 0,5% da população no mundo, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, é classificado como doença cutânea adquirida e de causa desconhecida. "É caracterizado por manchas branco nacaradas de diferentes formas e tamanhos, com tendência de aumentar de dimensão. É um distúrbio da pigmentação da pele ocasionado pela destruição dos melanócitos", esclarece Martin.

Entre os principais fatores desencadeantes do vitiligo se somam a deficiência nutricional, trauma, drogas e infecções. Os tratamentos são variados e dependem do impacto psicológico, extensão e evolução da doença.

QUALIDADE DE VIDA

A especialista orienta que a melhora na qualidade de vida é um importante coadjuvante no tratamento de doenças de pele. "Porém como conduta isolada não teria impacto significativo. Maus hábitos, como exposição ao sol, podem atuar como fatores de piora e até mesmo desencadeadores de doenças de pele. Em caso de dúvida tem que procurar ajuda médica e evitar tratamentos indicadas por vizinhos ou vistos em redes sociais e sites de pesquisa", adverte Ligia Martin.

As doenças de pele, geralmente, são acompanhadas de sofrimento psíquico. Por isso, podem provocar depressão e ansiedade. "Existem vários estudos que comprovam que pessoas que vivem com lesões de pele potencialmente visíveis apresentam ansiedade social. Esta condição acaba por gerar estresse e piorar o quadro cutâneo. É muito relevante intervir nestes casos para quebrar este círculo vicioso e proporcionar qualidade de vida aos pacientes", lembra o médico paulista José Jabur da Cunha.

Folha Arte

TRANSTORNOS

Hoje com 56 anos, a professora e pedagoga Elisamar Mendes Granado Chacon, moradora de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), começou a sentir os sintomas da psoríase ainda criança. Era descamação na pele, porém a palavra que denomina a doença não era mencionada no atendimento médico. "Quando estava com 17 anos saiu pelo corpo todo (as manchas avermelhadas), porém ainda não se falava em psoríase. Não era conhecida dos médicos", relata.

Os sintomas passaram a ser tratados como infecção de pele e, sem o tratamento correto, foi indicada a tomar remédio corticoide, como anti-inflamatório. "Fiquei sabendo que era a psoríase faz apenas uns dez anos. Então, fui tratada da maneira errada por muito tempo. Esta desinformação acabou fazendo piorar. Até então nenhum médico havia me alertado das comorbidades", lamenta.

Com a evolução da doença, Chacon também desenvolveu a artrite psoriásica, em que sente dores muito fortes nas articulações, dificultando até mesmo a locomoção. "Nunca imaginei que a psoríase causasse tantos transtornos. As articulações ficam rígidas, doem muito, e limita o andar. Tenho dificuldade para me levantar da cama", conta. Após várias tentativas, conseguiu o direito do Estado fornecer remédio mais efetivo contra a psoríase, que tem um custo alto, há aproximadamente cinco meses.

Com uma profissão desgastante pelo contato com diferentes realidades de alunos e pelos desafios que a própria educação pública carregam, ela acredita que o estresse influenciou na doença. "Ser pedagoga e professora nos dias de hoje não é fácil. O estresse é muito presente no setor educacional. O modo de vida que temos atualmente também é muito acelerado. Se torna um gatilho para a psoríase."

Apoiada pela família e encontrando respaldo e respeito no ambiente de trabalho, a docente tem enfrentado a doença e os estigmas sociais que a rodeia. "Tem uma exclusão bastante grande. A pessoa se afasta de vários convívios sociais, porque encontra preconceito. Existe medo com aquilo que não conhece. Por isso é preciso esclarecimento e informação. A família e amigos ajudam a superar", frisa Chacon, que agora tem tratado a chamada psoríase invertida, que provoca o surgimento de manchas vermelhas na pele, mas que, ao contrário da clássica, não descamam e podem ficar mais irritadas com a transpiração. "Tem aparecido nas palmas das mãos, pés e no rosto", diz.

Fonte: Folha de Londrina  

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